quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A Colisão dos Nossos Mundos


 Nós nascemos e crescemos em mundos completamente diferentes. Eu morava na capital paulista. Na famosa terra da garoa, onde as estrelas não podem ser vistas e o trânsito é caótico. Ela morava em uma minúscula ilha, nos confins da capital catarinense, onde as pessoas adoram falar da vida umas das outras, e a água do mar é mais gelada do que o coração dela. Mais de mil quilômetros nos separavam... até não separarem mais.

Tínhamos apenas dezesseis anos quando nossos mundos, tão distintos, se chocaram. Depois disso, nossas vidas mudaram. Nós mudamos. Nós nos mesclamos.
Entende de física? Nós somos pura física.
Existem duas fases durante uma colisão: a deformação e a restituição. Logo depois da colisão, inicia-se a fase da deformação. Nós passamos por essa. Nós nos deformamos e nos moldamos para nos encaixarmos um no outro. Depois, inicia-se a fase da restituição, que sempre termina com a separação dos corpos. Bom, essa parte nunca aconteceu conosco. Por escolha própria, nunca mais nos separamos. Fisicamente falando, nós somos uma perfeita colisão inelástica.
Isso significa que, depois de colididos, em vez de irmos cada um para o seu lado, escolhemos continuar... unidos.
Foi tão natural que não tivemos problemas em aprender a conviver bem com isso.
Hoje somos todas as estrelas do céu refletidas no mar. Hoje somos um céu mesmo sem estrelas. Hoje somos arranha-céus, mas também somos bangalôs à beira-mar. Hoje somos pé na areia. Pé no asfalto. Pé na porta do coração um do outro.
Hoje somos garoa fina e ondas altas, brisa marítima e ar com cheiro de escapamento de motor.
Hoje somos uma coisa só.
Na verdade, hoje, somos as duas metades da mesma coisa, donos de mundos distintos e opostos, colididos e completamente fundidos. Mas, acima de tudo, também somos melhores amigos. Não sei se amanhã ainda seremos. Eu tenho uma importante decisão a tomar. Pode ser uma decisão fácil, mas dadas as circunstâncias, está longe de ser. Não adianta eu te contar qual ou por que, não sem te contar como tudo começou. Então, bem-vindos ao início da nossa doce, profunda e caótica história de amor.


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