sábado, 21 de outubro de 2023

ENQUANTO HOUVER TEMPO



Ele achou que estivesse infartando novamente quando a beijou pela primeira vez.
Mas era só o seu coração lhe pregando uma peça. — O que estava fazendo quando sentiu essa pressão no peito? — Eu... bem, eu... — Olho ao redor, relutante em expor o que realmente ocorreu. — Por acaso estava com uma mulher, Dante? — ele indaga num tom malicioso, como se adivinhasse o que tinha acontecido. — Sim, mas foi somente um beijo — falo o mais baixo que posso. — Parece-me então que foi “o” beijo. Eu tinha tudo o que as pessoas desejam: dinheiro, conforto, luxo. Definitivamente, não precisava de um infarto aos trinta e sete anos. Muito menos, de arrependimentos. Mas eles vieram. Sabe o que dizem sobre a vida passar como um filme pela nossa cabeça quando estamos morrendo? É verdade! Só se esquecem de dizer que o que não vivemos também nos atinge nesse momento. Diante da dor e do medo, eu pedi ao Homem lá em cima que me desse mais uma chance, que me desse um pouco mais de tempo. Claro que eu precisaria fazer a minha parte e mudar algumas coisas. Uma delas seria tirar férias. Quem não ficaria feliz com isso? Um workaholic como eu! Entretanto, fui para uma pequena cidade do sul do país, onde a calmaria nos encontra em cada esquina, onde a beleza e a tranquilidade têm nome: Gaia! A mulher do interior me surpreendeu, conquistou e me transformou. E, ainda que a minha vida não fosse ali, eu disse que voltaria para ela. Só não fazia ideia de que talvez não houvesse tempo para nós.


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