Ela disse que eu era como uma música. Sua música favorita. Uma música não é algo que você possa ver. É algo que você sente, algo para o qual você se move, algo que desaparece depois que a última nota é tocada. Eu ganhei minha primeira luta quando tinha onze anos de idade, e eu tenho jogado socos desde então. Lutar é a coisa mais pura, mais verdadeira e elementar que existe. Algumas pessoas descrevem o céu como um mar de branco interminável. Onde coros cantam e entes queridos aguardam. Mas para mim, o céu era outra coisa. Soava como o sino no início de uma rodada, tinha gosto de adrenalina, queimou como suor nos meus olhos e fogo na minha barriga. Parecia o borrão de multidões gritando e um adversário que queria o meu sangue. Para mim, o céu era o octógono.Até conhecer a Millie e o céu se tornar algo diferente. Eu me tornei algo diferente. Eu sabia que a amava quando a assisti parada no meio de uma sala lotada, pessoas fervilhando, zumbindo, deslizando ao redor dela, a postura de sua dançarina reta inflexível, o queixo alto, as mãos soltas ao lado do corpo. Ninguém parecia vê-la, exceto pelos poucos que passavam por ela, lançando olhares exasperados para o rosto sem sorrir. Quando eles perceberam que ela não era normal, eles correram para longe. Por que foi que ninguém a viu, mas ela foi a primeira coisa que vi?Se o céu era o octógono, então ela era meu anjo no centro de tudo, a garota com o poder de me derrubar e me levantar de novo. A garota que eu queria lutar, a garota que eu queria reivindicar. A garota que me ensinou que às vezes os maiores heróis não são cantados e as batalhas mais importantes são aquelas que achamos que não podemos vencer.
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